quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Texto do Décio - Um grande amigo!!

Decio, a única coisa que tenho a dizer, é que gostaria de ter esse papo com vc sim, mas pessoalmente!rsrsrs

Um grande abraço e vale a leitura!

O homem e as novas tecnologias sociais

Fala-se e critica-se muito as "novas tecnologias" e o advento dos meios virtuais de comunicação e, sobretudo, das mídias sociais.

Vou falar um pouco sobre isso, já que em todas as discussões sobre o assunto de que participo, fica a impressão de que as pessoas não estão suficientemente conscientes sobre suas vidas e o que fazem no dia-a-dia para criticarem essas novas "invenções". Não que eu me considere "o consciente", mas sempre faz bem um pouco de reflexão.
Eu concordo que o ser humano, apesar de procurar e preferir sempre a companhia de outros de sua espécie, tem se isolado cada vez mais. No entanto, discordo da concepção de que isso é culpa das ditas tecnologias ou só dos "tempos modernos".

Antes de colocarmos a culpa das situações de nossa vida e do estado que se encontra o mundo, em algo externo, o qual parecemos não ter controle (comportamento típico humano), precisamos investigar as verdadeiras causas dessa situação e analisar se isso é realmente algo novo ou algo que também faz parte do mesmo ser humano.

Isso porque acredito que o ser humano não mudou em seus milhares de anos neste planeta, e esses eventos tecnológicos que presenciamos nada mais são que uma nova roupagem de uma mesma coisa.

O ser humano é essencialmente um ser que prefere a companhia de grupos. Também é um ser completamente egoísta e voltado à afirmação de seu poder e de sua superioridade. Além disso, também adora escrutinar a vida alheia em busca de exemplos em que se basear para comparar sua própria vida.

Mas não se engane. Essa comparação nunca é voltada a buscar algo de melhor em que se basear, em que apoiar seu crescimento pessoal. Pelo contrário.

Certa vez ouvi um ditado budista que dizia: "O homem só abre a boca para falar com 2 objetivos. Ordenar, através de sua superioridade que os outros façam sua vontade - impor sua visão e opinião. Ou agir como vítima das situações de forma que, por pena, os outros façam suas vontades." - acho que isso está mais do que certo.

Em suma, o homem não consegue nunca olhar para dentro. Olha sempre para (culpa o que está) fora. observa os outros e age de duas formas: Procura criticar, diminuir, para só assim se sentir superior, ou escrutinar o que o outro fez que ele inveja, de forma a conseguí-lo para que então possa pisar naquele que antes invejava.

Mas voltando às novas tecnologias sociais. Por que mencionei tudo isso acima? Porque não vejo diferença nenhuma no homem ao longo do tempo, com ou sem ferramentas sociais para agir como age há milênios. Fofoca de bar ou de parapeito de janela, MSN, a tradicional vantagem contada sobre os amigos do que fez no final de semana, blogs, a história de que se gabar ao telefone, twitter, é tudo a mesma coisa, não há diferença.

É só analisarmos. Se voltarmos um pouco à época dos homens das cavernas, todos lembram da famosa cena do filme 2001 - Uma Odisséia no Espaço, em que o macaco encontra um grande osso de um animal e descobre que esse osso pode se tornar uma arma, e como uma arma pode fazê-lo poderoso? Para quem não lembra, aqui está a primeira cena. Já esta contém a essência humana que não mudou até hoje e ainda mais: se repararem nos primeiros 10 segundos desse segundo vídeo, verão os primeiros tweets da história da humanidade. E os gritos de "Eu sou demais, ouçam-me! Vejam como eu sou bom!" dos macacos são curtos o suficiente para caberam em 140 caracteres! Ah, e prestem atenção aos "amigos" se juntando ao redor do "perfil" do líder aos 1 minuto e 23 segundos de vídeo e verão os primeiros "Likes" ocorrendo.

E assim caminha a humanidade. Lembram-se daquela história nas escolas, em que os nobres se acotovelavam para ver o rei transando ou visitando o banheiro na hora que a natureza chamava? Isso era legal, era cool. E o que mudou hoje com as pessoas disputando a revista Caras, Ti Ti Ti, Famosos, etc.? o que mudou hoje, com os Paparazzi fazendo rios de dinheiro escrutinando a vida de famosos apenas para que continuemos no ciclo vicioso de observar, comparar, criticar, invejar, pisar? E ainda questionamos a privacidade alheia. Mas os mesmos famosos que reclamam da falta de privacidade não eram os mesmos que se mataram no início para conseguir a fama? Isso quer dizer que a privacidade só interessa quando o calo dói?

E falando de privacidade, todos se preocupam com a privacidade dos famosos e, agora, a privacidade de seus dados, já que tudo está na web, na núvem: twitters, facebooks, orkuts, msns, emails, todos nossos dados estão lá e todos entram em pânico por isso. Mas vamos pensar um pouco. Quem é que não se sentou sozinho em um restaurante para almoçar e fez um grande esforço para não ouvir a conversa da mesa ao lado em que alguém insistia em contar para os quatro ventos o que fez no final de semana, como saiu com "aquela pessoa" que todos lá conhecem e invejam, o carrão que comprou, quantos computadores tem em casa, como costuma gastar mais de R$300,00 em uma "simples ida ao cinema", etc.? Ah, e antes de falarmos algo sobre as redes sociais, vamos dar uma olhada em todos os nossos posts e fotos nos últimos seis meses. Teremos a mais completa certeza de que não há nenhum dado pessoal divulgado lá? Não há o nome de nossos filhos? Suas datas de aniversário? O que adoram receber de presente? Se gostam ou não de pirulitos? Se costumamos viajar todo o final de semana e deixar o apartamento vazio, etc.?

Lembram-se quando mencionei que o ser humano gosta de andar em bandos só para ter um espelho para refletir sua arrogância que sobre o qual pode se gabar? Percebem um padrão?

Mas há outra forma de procurar atingir um público maior: Lembram-se dos Trovadores que andavam por aí entoando cantigas e geralmente acompanhando cavaleiros, cantando seus feitos? Acredito que aí temos o nascimento do blog. E por que entramos online para fazer algo como um blog? Ou tweets e Facebooks enormes? Pois é uma forma de atingirmos mais gente com nossa necessidade de sermos os melhores. Pois sejamos honestos: Se temos um fato curioso a contar para um grupo de amigos em que, obviamente, nos saímos bem em uma situação, não nos sentimos ainda muito mais lisonjeados e importantes se um grupo ainda maior de pessoas se junta para gritarem em uníssono: "UAAAAUUUUU"??

Mas acho que os exemplos acima são suficientes para percebermos que nada muda. Hoje apenas temos uma forma maior, mais rápida, potencialmente mais explosiva e de um alcance muito maior do que antes. E no futuro, teremos ferramentas ainda mais poderosas. É só. O ser humano continua sendo o mesmo, sempre.

Outro dia entrei em uma discussão (é eu adoro discussões, adoro reflexões sobre o mundo à minha volta), sobre a "revolução da educação". Para lhe dizer a verdade, não acredito em "revolução da educação". A educação está muito melhor e oferecendo um crescimento muito maior para as pessoas agora? E por que estaria? Alguns exemplos simples do passado, tirados de minha memória durante a madrugada: Galileu Galilei foi físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano. Isaac Newton era físico, matemático, astrônomo, alquimista (sim, alquimista), filósofo natural e teólogo. E todos sabemos o que esses grandes nomes foram capazes de fazer pela humanidade. Será que o conhecimento deles sobre cada matéria era realmente superficial? Será que eles foram os únicos. É claro que não, pois em suas épocas era comum o estudo de múltiplas disciplinas. Agora como podemos comparar isso com o nível de ensino atual, em que a informação está aberta e escancarada para todos, mas os que as procuram não sabem nem mesmo escrever, quanto mais ler, e compreender nas entrelinhas?

A educação está sendo revolucionada com a internet, o computador e as redes sociais? Não, apenas a fonte de informação tornou-se mais ampla e mais rápida. O que antigamente passávamos semanas para juntar fatos, opiniões, histórias e conhecimentos, conversando com uma pessoa aqui, e outra ali (e muitas vezes encontrando paredes já que muitas pessoas nos impediam de conseguir a informação, ou como auto afirmação ou como forma de proteger essa informação da vazia curiosidade de muitos), hoje encontramos tudo de mão beijada. Isso não quer dizer que saibamos ou que até queiramos descobrir o que e como fazer com essa informação. Era mais fácil, no passado, delegar a responsabilidade de processar a informação, compreender o mundo e mudar a nós mesmos por isso para os gênios, os Isaac Newtons e Galileus por aí. Era mais fácil no passado e ainda é mais fácil hoje, delegando as responsabilidades para os Steve Jobs, Zuckerbergs, Einsteins, Lulas e William Bonners por aí, não é mesmo? Qual a diferença entre a educação do passado e a de agora? Será que realmente estamos evoluíndo? Eu que atravessei os tempos de educação em escola pública, passando pela era da Enciclopédia Conhecer e Barsa, até aqueles "transfers" que eram vendidos para as crianças fazerem os trabalhos de escola, até algumas aulas em vídeo, mais tarde no colegial, depois o computador trabalhando e influenciando a vida na faculdade, etc., posso dizer: eu não vejo diferença.

E para finalizar, voltamos às redes sociais para analisar, o por quê desse fenômeno de isolamento. Eu também passei por essa época e também fui uma pessoa que preferiu se isolar do mundo em uma sala de bate-papo, a ter contatos reais sociais. Por que isso acontece? Lembrando o que eu expus acima, da forma que o ser humano procura sempre se auto-afirmar, eu acredito que esse isolamento começa a nascer quando há uma dissonância entre o que tentamos usar como arma de auto-afirmação no mundo, e a reação contínua desse mundo para conosco. Ou seja, somos o cão que tenta se impor como líder do bando, sempre correndo na frente ao procurarem um novo caminho, mas sempre acabando sozinho quando o bando em vez de nos seguir, prefere virar para outro lado e seguirem outro cachorro.

Tentamos os dois papéis aos quais se presta o ser humano: dominar e impor, ou se vitimizar e convencer. Quando nenhum deles dá certo, o objetivo principal de nos propormos a esses papéis, a criação e espelhos nos outros, do que queremos transmitir e refletir na sociedade, se perde, pois o espelho deixa de existir. Se o espelho não mais existe, não nos vemos mais refletidos lá fora, e somos empurrados a questionar a nós mesmos, nosso interior. Ou seja, sermos o espelho de nós mesmos para nos compreendermos. Mas é claro que isso ninguém aguenta. Então o que fazemos? Em tempos antigos, nos isolávamos, nos tornávamos esquizofrenicos, ou raivosos, e anti-sociais. Atualmente, há uma via de escape mais fácil, pois com as mídias sociais, podemos simplesmente nos desconectar de um mundo que não nos reflete como os maiorais, e nos conectarmos a um que, pelo anonimato, nos permite usar novamente as mesmas armas para conquistar. E se não conseguirmos ser a vítima lá fora e convencer alguém, por que não ser a vítima online e se fazer de bom perfeito e injustiçado? Ou por que não oferecer opiniões forte sobre temas polêmicos e, assim, levantar a bandeira para arrastar multidões de seguidores, de Likes, e de comentários?

E como alguém envolvido nesse mundo de redes sociais e games eu posso contar. Sabe de onde as redes sociais nasceram? Dos games. E por que nasceram dos games? Porque seus criadores tiveram a genial (apesar de óbvia se lembrarmos dos pontos acima) percepção de que as pessoas querem estar sempre em grupo para compartilhar. Mas compartilhar o que? Compartilha o quanto são as melhores, são boas, devam ser idolatradas. Os games possuem uma mecânica baseada em conquista. E os games que permitem a interação de muitos jogadores, utilizam essa mecânica de conquistas para ranquear seus jogadores de forma que a competição entre eles torne o interesse pelo jogo eterno. As redes sociais utilizam o mesmo conceito. Faça um post fantástico aqui e ele será disseminado instantaneamente pela Internet, haverão muitos seguidores, muitos Likes e comentários a rodo. Seja omisso, e você será aquele que repassa, aquele que dá o like, aquele que segue, e não mais o seguido.
Enfim, em minha opinião, as coisas não mudam. Não mudaram, e nem vão mudar. Não enquanto a essência humana continuar a mesma. uma essência preocupada apenas com o ranking, com os feitos, com as conquistas, com as metas... e com como se gabar disso com aqueles que te ouvem.
Abraços.

Décio