terça-feira, 9 de outubro de 2012

Meu Pai e a fantástica arte de Ser mais do que fala...

Dia 10/10/2012 seria o aniversário de 61 anos do meu Pai. Infelizmente desde o dia 07/09 ele não está mais por aqui.

Ele sempre foi uma pessoa interessante: era difícil ver alguém que não gostasse dele, e os animais simplesmente o adoravam. Me lembro bem de ir na casa dos padrinhos do meu irmão e estarem lá a Laika e o Lon. Minha tia sempre fechava os dois porque todo mundo tinha medo deles. Meu Pai chegava, pulava a proteção e eu só ouvia os cachorros fazendo festa com ele. A mesma coisa quando eram com pássaros e mais tarde com gatos também.

Com meus primos, ele sempre foi de um carinho enorme. Era comum meus primos enchendo o saco dele e vice-versa, sempre gerando reações como:"Ahhh tiooo", ou "Eeeee Tio Madoka", depois das brincadeiras, musiquinhas ou piadas infames que ele sempre adorou fazer, e depois ainda justificar.

Sempre foi muito amigo das minhas tias e tios, os de sangue e os de consideração, e sempre demonstrou muito carinho e gratidão quando se referia há alguns deles.

Fazia questão de falar em qualquer conversa, a data, local, dia da semana, peso e como eu e meu irmão nascemos. Era muito bonito ver como ele olhava pro meu irmão como aquele pequenininho gordinho que ficava sentado no chão comendo com cara de quem tava aprontando.

No dia em que cheguei no Japão, ele poderia ter me levado em algum restaurante bom e caro, mas preferiu ir direto pra casa, porque precisava ajudar as pessoas que tinham acabado de chegar e não tinha sequer dinheiro pra comer. Ele levava essas pessoas pra casa dele e dava comida pra elas, pra muitas delas, eu soube depois. Como soube de várias outras pessoas que ele ajudou. Como vi depois ele ganhar uma camisa com o nome dele atrás. Posto isso em uma comunidade brasileira que vive no Japão não é lá de se ajudar e se importar tanto assim uns com os outros, é uma glória.

Meu Pai me ensinou, sem nunca falar, que as pessoas são muito mais importantes que as coisas, e mostrou realmente como o Amor é possível e verdadeiro, também sem precisar falar nada. Comprava presente iguais para os filhos e afilhados. Pra mim e pro meu irmão, quando era pra um, era pra outro.

Bem, bem diferente desse lixo hipócrita, demagogo e egoísta desses posts de redes sociais fajutos e de pseudo-amores egoicos que vejo por aí.

Simples, era comum não se importar com belos talheres, casas caríssimas, lugares super aconchegantes para dormir, roupas de marca, nem nada disso. A frase:"ah, tá bom esse mesmo" era marca registrada.

Todas ações simples, mas de uma grandiosidade sem tamanho...

Tudo que estou escrevendo hoje, serve para várias frentes.

Não é necessário pompa, para ser nobre. Que não é necessária altura (Ele tinha 1,57m) para ser grande. Que não é necessário guardar dinheiro para ser rico. Aliás, pelo contrário. As coisas que ficaram dele por aqui, se tornaram inúteis sem a sua presença. Passando por esse tipo de situação, vejo quão doentes são as pessoas que matam os pais, os filhos, os irmãos, os maltratam, e brigam por bens materiais. E por heranças. E por qualquer coisa. Ainda bem que meu irmão é meu irmão. Uma de suas primeiras atitudes ao começarmos à resolver as coisas, foi dizer:"não precisamos de inventário, e a gente divide tudo pela metade, ta bom?". É a natureza dele somada ao exemplo do meu Pai. Certeza que Ele ficou orgulhoso...

Mas voltando, enquanto isso outras pessoas ficam presos ao seu orgulho, avareza, casa, carro, dinheiro, poder, grades, pompa, ganância, julgamentos, palavras bonitas e de impacto, etc. Nessa lama toda. Nada contra, cada um tem seus valores individuais e como alguns sabem: faça o que quiserdes, pois é tudo da Lei. Até a hipocrisia faz parte...

Por mais que doa, eu sei que acabou o tempo do meu Pai aqui. Sem os nhenhenhéns conformistas e pseudo-espiritualistas habituais, sabichões de oportunidade e afins, eu sei que acabou. Fico aliviado por ele ter conhecido minha sobrinha, já que uma netinha sempre foi o sonho dele. Seria sacanagem se não fosse assim. Eu lamento da nossa parte pela falta que Ele sempre vai fazer, e pela frustração de não passarmos todas as outras situações do mesmo lado...isso realmente me entristece...

Mas entendo que ele tinha que ir, e entendo que morrendo aqui, ele se tornou eterno. (citação de São Francisco de Assis).

É interessante meu Pai passar muito tempo sem acreditar em Deus. Depois passou a acreditar. Mais interessante ainda, é que mesmo sem acreditar, e sem nunca ter seguido religião alguma, suas ações foram dos grandes cavaleiros esotéricos ou religiosos, dentro da definição de St Martin. Os que fazem o bem pro meio e seus habitantes, com simplicidade, silenciosamente mudam o mundo e sem esperar qualquer tipo de louro pelo serviço prestado. A luz branca bem visível em torno dele em várias de suas fotos mostra bem isso.

Em uma época que os Paulos Coelhos e aspirantes a tal se vangloriam de informações que não são suas, encontrar e conviver com alguém assim, é de um valor inestimável.

Faço desse post uma maneira de lembrar também dos meus tios, tão amigos do meu Pai, que também dedicaram a vida do jeito que puderam pra dar tudo que puderam aos seus filhos: Tio Américo (tio de consideração, amigo do meu Pai desde o final da adolescência), Meu Padrinho João Carlos (dispenso comentários sobre o coração do meu Padrinho), Tio Marino (sempre vou ser grato por ter ido comigo ajudar no acidente do meu Pai, em toda a bondade, prestatividade e em todas as palavras, não só nessa situação), Martins (Padrinho de batismo e casamento, e uma das pessoas que meu Pai sempre teve muita consideração), Tio Keiti (que meu Pai sempre teve como um quase pai), Tio Arata (vou falar o que da obra do meu tio?!?! É só de olhar e admirar) e claro, meu avô Masaya, que não conheci, mas que sei que meu pai e meus tios tem muito dele e que meu avô sempre foi uma pessoa de um coração enorme.

Nem sei como acabar essa história. Deve ser porque ela ainda não acabou...